GilmarJunior

Textos de minha vida.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Fisiologismo, por Gilmar Luís Silva Júnior, em 29/09/2006.

Quatro dias antes das eleições de primeiro de outubro, Lula jogou a última cartada. Lançou o dardo para angariar um Congresso ainda mais subserviente. O presidente da República aliciou o PMDB com seis ministérios, se o PT permanecer no comando do país. Num escambo obtuso, o outrora Partido dos Trabalhadores navegaria numa bonança em mais quatro anos de possíveis escândalos.

O PMDB ainda não se manifestou acerca de tal assédio. Os partidários gaúchos certamente irão rechaçar esse convite de dúbios interesses. Já a ala mais conservadora - representada pela figura do senador José Sarney - acena com a possibilidade de um pacto medíocre e que empana ainda mais o cenário político atual.

Sarney fora um político pérfido. Arraigado nas tetas que escorriam dinheiro da ditadura militar, o político maranhense controla a imprensa e muitas empresas de um Estado miserável. Chegou à presidência através da morte de outrem e não soube encilhar o cavalo fumegante da inflação que tachou os anos 80 como "a década perdida".

O PMDB não possui uma trajetória impoluta como apregoa ultimamente. Criado para sistematizar os anseios de uma oposição num regime sufocante, o antigo MDB nasceu sob o estigma da farsa. Na redemocratização, essa farsa configurou-se em pantomima. O PMDB trazia uma fauna diversa, mas pecava profunda e tristemente pela falta de identidade.

Tanto é verdadeira a assertiva acima que exponho dois exemplos. Na segunda metade dos anos 90, Anthony Garotinho começara a despontar para o restante do país como uma alternativa política. Populismo e um recrudescimento de propostas fizeram-no debandar do PSB, na época um pretenso partido de esquerda, para o PMDB, o eldorado onde ninguém precisa seguir um norte. Outro nome - Pedro Simon - é mais probo que o anterior. Mas esmaga monossílabos entre os dentes quando alguém cogita que ele, Simon, deve levantar-se da cadeira de Senado ocupada há 16 anos.

A falta de substância acata os frutos de um porco que se arvora como cavalo de puro sangue. Assombra-me o fato de uma sigla penhorar os culhões por apenas seis cadeiras. Suspendo a escusa de lembrar se lídimos foram os estandartes defendido pelos signatários do PMDB, pois simplesmente eles jamais vieram à luz.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Vou torcer pelo Grêmio – 22 de setembro de 2006 – Gilmar Luís Silva Júnior.

Neste mês e em outubro, vou torcer pelo Grêmio. De candidato ao rebaixamento, o tricolor gaúcho passou a postulante ao título nacional. Em 2005, a trajetória gremista converteu-se num teste aos corações de fibras mais afortunadas. O jogo contra o Náutico, na final da série B, será o emblema do epíteto “imortal tricolor”, decantado nos versos de Lupicínio Rodrigues.

O futebol ainda me emociona, mesmo que reproduza as contradições deste Brasil continental. São pessoas com pouca instrução que emborcam rendimentos vultosos. Um trabalhador honesto jamais cogitaria tanto. Mas o ludopédio que consagrou o Brasil no cenário mundial é um momento de descontração. Principalmente para um mês que antecede o horror compulsório que se tornou o voto.

Diante de conluios contra o contribuinte – são milhões de reais que escorrem pelos títulos graúdos nos jornais – o ato outrora distinto de exercer a cidadania transformou-se no picadeiro de um circo. É com a anuência dos eleitores que sanguessugas, mensaleiros, moluscos, prepotentes e outras figuras do dilatado folclore brasileiro chegam ao estrelato. Depois disso, passam-se quatro anos nos quais narizes de palhaço são imputados a nós.

Contudo, o pleito de 2006 encerra a emergência de uma face perversa do imaginário nacional. A candidata do PSOL, Heloísa Helena, a primeira mulher a entrar de forma perene no cenário político, trouxe à tona o preconceito. Heloísa xinga. Ela foi a única pessoa pública que, após o escândalo do dossiê encomendado pelo PT contra os tucanos, proferiu uma hipótese muito plausível para o atual panorama: tanto dinheiro só viria do narcotráfico ou do crime organizado. O que fizeram os bons moços de terno? Chamaram-na de histérica. Soou quase como “lugar de mulher é na cozinha”. Esse pensamento, tributário dos nossos antepassados lusitanos, ainda permanece arraigado na sociedade brasileira. Seja homem de terno, seja proletário, seja até mesmo uma dona-de-casa, o arquétipo de mulher no Brasil encerra o sexo feminino na lida com as panelas e com o pano úmido.

Infelizmente, a Igreja Católica tem muito de culpa no cartório. Quando o catolicismo triunfou na Roma decadente, tratou de promover o maior sincretismo religioso de que se tem notícia. O catolicismo incorporou ritos pagãos para atingir o maior número de vítimas. E a figura da deusa era recorrente em muitas religiões antigas. Cito, por exemplo, o caso da pequena ilha de Creta. Por isso, a nascente, mas astuta, Igreja Católica colocou a Virgem Maria quase no mesmo patamar da Santíssima Trindade, numa aberração teológica. Maria, a mãe de Jesus, verteria o traço mais virtuoso para uma mulher quimérica. Calada, silente, ela rogaria apenas para o perdão de pecados. Uma mulher, nessa acepção, jamais poderia acusar. Isso é uma insolência para os padrões católicos. A maneira pela qual o Vaticano representou a mulher na Idade Média pontua ainda mais meu ponto de vista. Numa escultura em uma igreja gótica francesa, da qual não me recordo o nome, os escultores católicos medievais delinearam uma mulher envolvida em três serpentes. Duas delas abocanhavam-lhe os seios. A outra, a vagina. A própria definição de pecado talhada na pedra. Ou de desejos reprimidos, como é comum a homens e mulheres violentados pelo celibato.

O catolicismo frutificou e chegou aos trópicos. Foram tantos desmandos praticados pelo Vaticano, que uma tese de doutorado não os abarcaria. Sem perder o medievo como norte, a Igreja Católica se embrutecia. A modernidade apenas representou um estado de latência nos princípios antiquados do catolicismo. Na TV, atores famosos ensinam a usar o preservativo, prática ainda condenada pelo papa Bento XVI. Mas basta que apareça alguém solapando a moralidade católica que recrudescem os humores. Pululam assim disparates políticos que visam acionar o preconceito embutido em milhões de brasileiros.

Uma vez, uma mulher me disse que Heloísa Helena era lésbica. Benzeu-se após a palavra que designa o homossexual feminino e contraiu o rosto. Indaguei-lhe por quê. Ela disparou: “Ela parece um homem falando”. Ri um sorriso amarelo. Internamente, tal assertiva me muniu dos argumentos que cá exponho. Ao homem competem as palavras de baixo calão e à celeuma transgressora. Ao homem, embora incompetente, cabe o posto mais elevado de decisão. Para o decantado sexo frágil – que sofre a pior dor do mundo, o parto – resta apenas a casa. Ou a cozinha da casa-grande, em outros tempos.Por isso, hei de torcer pelo Grêmio.

Conheço várias amigas apaixonadas por futebol e apregoadas como “machonas”, “marias-chuteiras”. Elas dão de ombros e continuam a xingar o juiz quando vemos uma punição injusta ao nosso time. E vou de Heloísa Helena e de Luciana Genro. Não as acho realmente preparadas para promover o desenvolvimento de que o Brasil necessita. Voto nelas para transformar a vida desses homens imbecis e palermas num verdadeiro inferno. Ou em algo análogo à partida do tricolor gaúcho no estádio dos Aflitos, em dezembro de 2005. Isto é, em muita emoção.