GilmarJunior

Textos de minha vida.

terça-feira, outubro 25, 2005

Não: voto de protesto

O referendo sobre o comércio de armas de fogo e munição pode até ser visto como um exercício inédito de democracia abaixo do Equador. No entanto, o que se sente é a delineação de um instrumento de protesto contra posições do governo federal, principalmente a falência na segurança pública. Contrariando todos os princípios de isenção e ética, o governo Lula apoiou incisivamente a opção “Sim”, que proibiria o comércio desses artefatos em todo o território nacional. Um exemplo emblemático foi a primeira-dama, Marisa, acenar para as câmeras com os dedos em V, numa alusão à vitória da opção 2 (Sim). Já o atrapalhado ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi muito claro ao afirmar, no jornal Folha de São Paulo de outubro deste ano, que o intuito da esfera federal é desarmar o cidadão e não os bandidos. Depois, relutou e tanto fez que sua frase desastrada fora impugnada dos veículos de Comunicação e da propaganda dedicada ao “Não”.

Já que votar nesse referendo, que subtraiu R$ 270 milhões dos cofres nacionais (verba superior ao montante gasto pelo poder federal nas políticas de segurança pública), é compulsório, algumas explanações merecem vir à tona. Não estou criticando o fato de o governo pedir ao povo que decida sobre o comércio de armas no Brasil. Mas essa ação democrática se torna estéril diante do momento político vigente. Quem sabe a cúpula política não realiza um evento similar sobre qual punição deverá ser aplicada aos parlamentares envolvidos no pagamento de polpudas mesadas a deputados?

Mas o recado que grande parte do eleitorado deu no domingo foi claro. Onde há consentimento do governo federal, o eleitor o contraria. Segundo pesquisa do IBGE, exibida no dia 23 de outubro de 2005 no programa Fantástico, a queda do índice de quem considera bom ou ótimo o governo Lula ficou em parcos 28%. A desconfiança do presidente está em 51%. O recado, contudo, já havia vindo antes, em 2004, nas eleições municipais em todo o Brasil.
Não é coincidência que o Rio Grande do Sul foi o Estado no qual o “Não” venceu com marcas mais expressivas. Enquanto a média nacional mostra a vitória da manutenção do comércio de armas por 63%, no RS esse índice superou os 86%. O Estado que outrora se mostrava o reduto petista mais contumaz manifesta desagravos perenes ao PT. Em 2004, o pretenso Partido dos Trabalhadores perdeu prefeituras importantes, como Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas, cidades que agora exibiram índices altos da vitória do “Não” no referendo. O recado do eleitorado gaúcho, muitas vezes, não se dirigiu aos executivos petistas municipais. A prefeitura de Porto Alegre, por exemplo, ainda obtinha bons índices de aprovação. O alvo da fúria contra o PT se vinculou aos passos inábeis da esfera federal. Perda de direitos previdenciários, arrocho salarial e manutenção de um superávit primário às expensas do combalido trabalhador foram determinantes no ocaso petista no RS.

Porém, imbuído de empáfia ou ignorância, o então presidente da sigla, José Genoino, sentenciou que a perda de prefeituras importantes (como a da maior cidade brasileira, São Paulo) não era alarmante. Pagou o erro. O ano de 2005 entra em cena e a última máscara do PT cai por terra. Roberto Jefferson promove o desmonte da égide da ética do Partido dos Trabalhadores. O partido tornou-se algoz dos trabalhadores que jurava defender. A debandada de políticos para outras siglas é a mostra da decadência promovida pela mentira e pelo perigoso estado de auto-suficiência no qual o PT se encontra imerso. Para quem completou 25 anos, as dores e as cicatrizes não combinam com essa tenra idade.