GilmarJunior

Textos de minha vida.

segunda-feira, abril 26, 2010

Falta de cuidado com a própria língua

Português chega às escolas de idiomas
Muitas vezes preocupados em aprender línguas estrangeiras, os brasileiros têm se descuidado do seu próprio idioma
Adilson Camargo
Quantas vezes você correu os olhos nos anúncios de emprego e leu que era preciso dominar o idioma inglês e, em alguns casos, também o espanhol? Há empresas que pedem outros idiomas a seus candidatos, como o alemão, francês e japonês.

Por conta dessa exigência do mercado de trabalho, muitas pessoas estão se preocupando mais em aprender uma língua estrangeira do que ter pleno domínio de sua própria língua.

Esse descuido pode ser “fatal”. Erros grosseiros de português em uma simples carta de apresentação ou no currículo pode comprometer o futuro do candidato dentro de qualquer empresa. A falta de domínio do idioma nacional é um dos principais motivos de eliminação dos concorrentes a um cargo profissional.

Cientes dessa deficiência, as escolas de idiomas passaram a oferecer o curso de português para brasileiros. O público-alvo é formado por funcionários que foram promovidos a cargos de chefia e empresários que ascenderam socialmente, mas que na época de estudantes, não chegaram a se esforçar muito para aprender e agora podem se envergonhar por falar errado, ou soltar memorandos cheios de erros.

Entre os alunos estão também estudantes de nível universitário preocupados com a qualidade e a correção dos textos que terão de produzir em seus trabalhos de conclusão de curso, nas dissertações de mestrado e nas teses de doutorado.

É o caso de Guilherme Peres Donatto, 19 anos, aluno do 2º ano do curso de administração. Segundo ele, quando cursava o ensino médio, as matérias eram passadas com muita rapidez, sem tempo para assimilação.

Quando passou a frequentar o cursinho, antes de entrar na faculdade, o obstáculo passou a ser a grande quantidade de alunos. Conseguir a atenção do professor para tirar as dúvidas era um desafio.

Mesmo tendo o hábito de ler, Guilherme chegou à conclusão de que o aprendizado da língua portuguesa não foi adequado. Preocupado com seu desempenho na universidade e também fora dela, onde pretende concorrer a emprego público por meio de concurso, ele se matriculou em um curso de português oferecido pela escola Focus Idiomas, uma das que oferecem o serviço em Bauru.

“Todos os anos, centenas de pessoas se formam na área em que estou estudando. A concorrência é acirrada. Por isso, tenho de oferecer algo a mais para ter chances no mercado de trabalho”, observa.

Akemi Goto, 23 anos, companheira de sala de Guilherme, está no curso por outro motivo. Ela nasceu no Brasil, aprendeu a falar português, mas com 4 anos de idade foi para o Japão, onde permaneceu por 18 anos. Agora, ela está de volta e precisa de um reforço para aprender a escrever corretamente. Ela fala e entende perfeitamente o português, mas tem dificuldades com a escrita.

Segundo ela, a parte gramatical da língua portuguesa é mais complicada do que aprender o idioma japonês. Um dos seus objetivos nessa volta ao Brasil é entrar numa faculdade. Para isso, terá de dominar sua língua natal.

Para a coordenadora do curso de letras da Universidade do Sagrado Coração (USC), a professora de literatura Valéria Biondo, saber utilizar o idioma de maneira correta é essencial para quem ocupa cargos executivos. Isso porque não é somente o nome da pessoa que está em evidência, mas da empresa em que ela trabalha também.

“As pessoas confiam menos em quem não sabe se expressar”, afirma Valéria. Na opinião dela, os líderes têm de dar exemplo inclusive nesse aspecto. No entanto, a coordenadora ressalta que conhecer a língua materna em todas as suas particularidades é dever de todos. “Dominar o idioma é o mínimo que se espera de um povo”, diz.

Segundo Valéria, os alunos de hoje leem pouco e isso contribui para a falta de familiarização com a língua portuguesa. Ela lembra que quando era criança por diversas vezes ganhou livros de presente. “Hoje, nós vemos muito pouco isso”, comenta.

Por isso, a coordenadora garante que muito dessa defasagem no domínio do português deve-se à falta de incentivo à leitura dentro de casa. “A participação dos pais é fundamental”, afirma. “O livro tem de fazer parte do cotidiano das pessoas”, orienta Valéria, que faz parte da comissão de correção dos vestibulares da USC e conhece de perto o tamanho do problema.