GilmarJunior

Textos de minha vida.

domingo, maio 07, 2006

Morte do socialismo, por Gilmar Júnior – 7 de maio de 2006.

A queda do Muro de Berlim, em 1989, representou o golpe mais nevrálgico no socialismo mundial. Mas todo corolário de distorções do mundo comunista apenas principiava a ser desnudado para o restante do planeta. Na Romênia, do fuzilado Ceauscecu, uma família de quatro pessoas tinha de viver com apenas uma lâmpada. A situação se torna mais dramática ao ressalvar o quão rigoroso é o inverno romeno.

De 1989 até agora, o socialismo esmorece. Fraqueja até mesmo diante de redutos rijos de outrora. O PT é um deles. Como disse um brasileiro: “Quem gosta de pobreza é intelectual; o povo quer é luxo”. E o ex-metalúrgico Lula encarna esse espírito com afinco. Dotado de um guarda-roupa de fazer inveja a Silvio Berlusconi – no tocante ao número de ternos Armani – Lula exibe hábitos de um nababo. Ainda que os artifícios sintáticos permaneçam simplórios, o presidente candidato insiste em transitar por dois mundos inconciliáveis: o proletariado e a burguesia. A única premissa marxista que subsiste é que não pode haver enlace de qualquer ordem entre uma e outra classe. Uma relação cão e gato.

O socialismo, no entanto, pipoca em pagos não tão distantes. O presidente boliviano Evo Moralez mostrou à América Latina que tem colhão. Numa política adversa à cumprida pelo PT (que oferta lucros vultosos aos bancos), Evo cumpre à risca a plataforma de campanha: nacionalizar o maior trunfo da Bolívia, as riquezas minerais. Não adiantou Lula dirimir o impacto de tal ação: os preços do gás serão reajustados, mais cedo, ou mais tarde. Na vizinha Bolívia, um dos países mais pauperizados da América, assistimos a um respeito incomum aos pressupostos do socialismo. O PT realmente vai ficar vermelho. Vermelho de vergonha.

Desligo o noticiário e vou-me deter em ler os jornais impressos. No âmago, rio num ricto tímido, mas esperançoso de que o socialismo poderá vingar as mazelas do capitalismo. Lembro-me do furacão Katrina e as avarias não só nas cidades sulistas dos EUA, mas na propalada imagem de bonança do território ianque. A pobreza campeia entre os negros. O capitalismo, mesmo que gere riquezas e opulência, permanece tacanho e concentrador.

Minha mente remoia esses fatos quando me deparo com uma pequena notícia, proveniente de agências internacionais. Não recordo ao certo se era da Reuters ou da AFP, mas meus olhos ficaram embaciados naquelas curtas linhas. O ditador Fidel Castro detém a 7ª maior fortuna dentre os governantes mundiais, com 900 milhões de dólares. O espanto se imiscui entre meu coração e meu cérebro: mas por quê? Em Cuba, todos são iguais! A inocência folgou de novo em minha alma. Por pouco tempo. Não me espantaria ler que Fidel consumisse rombudos sanduíches do MC Donalds.

Meu mundo ruíra em menos de dez minutos. Em um dia, mais um golpe funesto nos meus sonhos, na minha esperança. 2006 começou com a exasperação do circo dos horrores que fora em 2005. No Brasil, deputados livram os comparsas sem pudor. Alguns chegam a dançar no plenário, diante dos holofotes da imprensa. Vergonha? Isso virou qualidade de virgem enlutada, daquelas presentes em obras tão antigas quanto Marx. E o alemão, autor de “Proletários do mundo, uni-vos”, deve estar chorando no túmulo.

Um trecho de uma canção de Cazuza fez-me corar. “Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder”. O cantor e digno poeta carioca está quase correto. Meus inimigos estão realmente nos sólios elevados: os canalhas que ocupam o posto mais eminente da nação com subterfúgios e engodos. Mas meus antigos heróis não morreram de overdose. Eles se suicidaram por pura sem-vergonhice mesmo.