GilmarJunior

Textos de minha vida.

domingo, março 26, 2006

Terra do Nunca

Terra do Nunca nos trópicos, por Gilmar Luís Silva Júnior – 23 de março de 2006.

O presidente Lula não gostou do documentário Falcão, exibido pelo programa dominical Fantástico, no último domingo. O ex-metalúrgico aproveitou as cenas fortes do vídeo e reiterou seu desprezo pela liberdade de imprensa. “Parece que a imprensa não gosta de dar boas notícias”, falou Lula. O chefe da Nação, infelizmente, insiste em viver num país de inauguração de obras, onde a população sempre vai aplaudi-lo.

O PT, de forma geral, vive a problemática da Terra do Nunca. Lula se apóia em números distorcidos para promover um clima de euforia, digno do intangível “espetáculo do crescimento”. O salário-mínimo, grande vedete da administração federal, ainda não atingiu os R$ 400, mas a máquina publicitária petista ostenta um índice polpudo de aumento. A sigla que julgava defender os trabalhadores esquece as outras faixas salariais. O arrocho salarial se difunde em diversas profissões. Pessoas com diploma superior se sujeitam a amargar vencimentos de 2 a 3 salários-mínimos. A cúpula petista no setor econômico, capitaneada pelo suspeito Antonio Palocci, deve achar essas remunerações algo absurdo.

Absurdo, no entanto, é uma palavra banida do inconsciente petista. Uma deputada paulista hoje dançou no Congresso, ao presenciar a absolvição de mais um colega no engodo chamado CPI do Mensalão. A capital federal amanheceu fedendo a pizzas. Deputados do PT, do PL e do PP ampliam o número de fatias da mais nova especialidade do Congresso Nacional. Vergonha, pudor, absurdo, medo, tudo é coisa do passado. O povo nada pode fazer, quando os próprios ladrões acreditam piamente na Terra do Nunca.

O dia foi ainda mais farto em sandices no Planalto Central. Novamente, o palco foi o Congresso. Por lá, aprovou-se um plano de carreira que concede 15% de aumento aos servidores ativos e inativos. Aposentados do Brasil se sujeitam a reajustes pífios. Alguns índices chegam a ser piada de mau gosto. E onde estão as turbas alijadas do portentoso PIB brasileiro? Estão inertes. Ou até inebriadas. É o efeito Terra do Nunca. A politicagem avultou-se como uma casta tão incólume de críticas e sanções que os desmandos tornaram-se rotina. O povo nada pode fazer. Os políticos se escondem em carros blindados, em CPIs que fingem investigar ou em números deturpados.

Temo que, até o final de 2006, os políticos emitam notas dizendo: “Roubei, fazer o quê, o dinheiro estava dando mole”. E ainda vão assinar. Ninguém vai poder jogar ovos neles mesmo.