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Textos de minha vida.

sexta-feira, março 17, 2006

NÃO ROUBE MANTEIGA, por Gilmar Luís Silva Júnior – 17 de março de 2006

Em São Paulo, a empregada doméstica Angélica Aparecida Souza Teodoro, 18, está presa há 120 dias por furtar um pote de 200 gramas de manteiga. Ela foi presa em flagrante pela Polícia Civil, que descobriu o produto escondido no boné da doméstica. O juiz que cuida do caso reiterou que negará quaisquer tratativas de tirá-la do cativeiro. Sem antecedentes criminais, ela divide a cela com autoras de crimes hediondos. O crime de R$ 3,10 foi motivado pela fome dos familiares dela. A empregada sustenta dois irmãos mais novos e a mãe, além de uma filha de dois anos. Em seu arroubo, ela pensava colocar mais sabor ao escasso pão dos familiares.
Diante disso, pode parecer que o Brasil é o país das penas exemplares. Aqui, no entanto, campeia a desigualdade mais cínica do planeta. Para os economistas, o Brasil se chama Belíndia: pobreza da Índia e riqueza da Bélgica. Para o cidadão brasileiro, um sorrateiro apartheid social se imiscui em todas as camadas da população. Esse quadro inquietante torna-se cada vez mais perene com o aval dos Poderes brasileiros, em especial o do Judiciário.
Um desembargador brasileiro agrega para o seu polpudo salário cerca de 40 gratificações. Contabilizando tudo, os vencimentos superam os R$ 50 mil. O salário é alto, mas o caráter de boa parte dos magistrados vale menos que a manteiga furtada por Angélica. O juiz que deseja vê-la apodrecer na cadeia dirige um bom automóvel, com ar-condicionado, come como um abade e exibe um corpo rotundo de satisfação. E dorme bem, sem resquícios de pesadelos.
O fato adquire conotações de ódio ao pensarmos que a Justiça emanaria de um poder submerso na depravação de caráter. O advogado José Dirceu, ex-ministro de ferro do governo Lula, dá até palestras no Fórum Social Mundial. Dirceu falou em Caracas sobre justiça social. O político cassado no Brasil apregoa mundo afora idéias que jamais foram postas em prática quando esteve no alto escalão nacional. Um guerrilheiro de meia “pataca”, no dizer do escritor Manuel Antônio de Almeida.
A indignação toma conta de vastas parcelas do povo, em especial dos jovens estudantes. Como melhorar de vida neste imenso país? Existem dois caminhos plausíveis em curto prazo. Primeiro, o eleitorado de mais de 120 milhões de pessoas deve votar nulo. Se houver a presença maciça dos nulos, novas eleições serão realizadas, com candidatos diferentes. Soaria como botar a súcia para fora. A outra chance de melhorar a própria vida seria tentar um cargo de desembargador. Os motivos salariais e o status incólume diante do que é certo falam por si mesmos.

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