GilmarJunior

Textos de minha vida.

domingo, fevereiro 05, 2006

Os vícios do governo federal, por Gilmar Luís Silva Júnior, em 18 de janeiro de 2006.

Ano novo, vida nova. Talvez assim o fosse, se a fleuma do povo brasileiro não estivesse tão encarnada em milhões de pessoas. Mal cruzamos o mês de janeiro, os políticos prometem que tudo será diferente. Até um sorriso de conforto seria esboçado, se o horizonte não mostrasse que um ano eleitoral está a espreitar o brasileiro, com seus ardis.

O passar dos anos não traz somente mais rugas. Carrega consigo o desgaste de um sonho, de um projeto que se insinuava libertário. O advento do PT, nos anos 80, significou o reduto de valores éticos, tão olvidados durante os mais de 500 anos de história do nosso país. Dos portugueses restaram as instituições arcaicas e toda uma série de práticas reduzidas a alguns “ismos”. Não é preciso raciocínios mirabolantes para se depreender a origem do corporativismo, do paternalismo, do fisiologismo, etc. São vícios que, atualmente, não carregam a pecha negativa que lhe são inerentes. Depois dos lusitanos, a jovem sociedade brasileira aprendeu com ingleses, norte-americanos, franceses, entre outros, que a divisão de classes é um mal necessário. Tal desigualdade não encontra a justiça diante de si: os olhos e os ouvidos da nação estão atados.

E permanecerão atados até o final do empanado governo petista. O primeiro ano da administração Lula desenrolou-se num clima de paz, sustentando por um voto de confiança. A classe mais humilde estava ainda embebida no êxtase da vitória do PT e, diante de tanto sentimento bom e verdadeiro, olhava de soslaio para os tropeços de competência federal. O ano seguinte, 2004, fez o caldo entornar: o escândalo Waldomiro Diniz, envolvendo o ex-ministro e pretenso ditador, José Dirceu, riscou o vidro do outrora incólume caráter petista. O superministro começou sua derrocada, que viria a se concretizar no ano passado. 2005 não será esquecido. O ano que o lamaçal atingiu um nível explosivo. Nunca se viram tantas cifras mudando de mãos por objetivos tão torpes. Mensalão, Mensalinho, BMG, etc. são siglas e práticas que entraram de vez no imaginário do brasileiro. Não servem, no entanto, para figurar entre figuras do folclore, como apregoa o simplório presidente Lula.

O PT sofre de um problema de personalidade e isso compromete todo um projeto de governo.
Enquanto a corja petista governar como um partido conservador, aparecer na TV como populista e ser visto como progressista para o restante do mundo, os desatinos vão permear o cotidiano do Brasil. Pagar R$ 15 bilhões antes do prazo para o ávido FMI não soou muito bem para uma sigla cujas prerrogativas eram o socialismo e a melhoria de vida do trabalhador. Um presidente que dá os ombros para a educação não merece sentar na cadeira mais almejada do país. Um partido também quer calar a imprensa: na segunda semana de janeiro, o PT chocou muitas pessoas ao tentar proibir o uso de gravações telefônicas em reportagens investigativas. O velho e desgastado adágio cabe a esse acinte ao exercício do Jornalismo: quem não deve, não teme.

No dia 25 de janeiro deste ano, o presidente Lula concedeu mais munição à falta coerência de seu governo. No Congresso, mais de 480 deputados votavam o destino da verticalização partidária. Se for mantida, a verticalização estende as alianças do nível mais elementar – o município – até a esfera federal. Isso significaria que as alianças entre as siglas seguiriam uma tendência em todo o Brasil. Ponto para a coerência. Mas Lula é contra. Lula prefere o “balaio de gatos”: no RS, PT e PMDB se digladiam até a morte, mas em Brasília os dois partidos tentam selar uma relação cordial.

Soa como derrota a falência de mais um sonho. Um sonho de mudança que se converteu em engodo. Dói ver um partido que desfraldava a ética como efígie se tornar um monstro, sem cara, sem cor. O PT governa para os patrões, vigia a opinião pública como uma agremiação populista reacionária e quer se perpetuar no poder como uma ditadura proletária. A sigla de Lula não mede esforços em calar opositores. Até assassinatos de antigos membros são cogitados no cenário atual – vide os casos dos ex-petistas Celso Daniel e Toninho do PT. São tantos equívocos ideológicos que causam náuseas nos poucos corações ainda sãos nesse imenso país.