GilmarJunior

Textos de minha vida.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Sai Severino Xique-Xique!!!

Muitos países têm no tempo um fator de amadurecimento das instituições e formas de governar. A democracia moderna brasileira é jovem, já que há apenas 20 anos os militares deixaram de submeter o Brasil a um jugo estéril e criminoso. Alguns equívocos são até previsíveis. Contudo, a manutenção de vícios antigos e a insensatez de muitos políticos, no início deste século, tornam a democracia do país um palco livre para disparates e fazem com que o regime vigente seja deveras questionado.

Desde a derrocada da credibilidade do governo Lula, no início deste ano, figuras e atos funestos se sucedem no palco político em Brasília. A eleição do caudilho Severino Cavalcanti é o mais salutar do espetáculo dos horrores. Um homem associado ao paternalismo e sem consciência do papel que hoje ocupa é o líder dos desmandos políticos na capital federal. Severino se elegeu ao dar vazão às queixas infundadas do chamado “baixo clero”, um grupo de parlamentares cujos interesses salariais se sobrepõem à função que a eles competem: a representatividade do povo. O aumento da verba de gabinete para um montante superior a R$ 10 mil contradiz a realidade a qual estão submetidos milhões de brasileiros. Abaixo do Equador, um pai de família tem de sobreviver com 1 a 4 salários mínimos. Os “nobres” parlamentares, além da verba polpuda, empregam seus consangüíneos no serviço público sem o menor pudor. Tudo sob os auspícios do pseudopolítico Severino Cavalcanti, que atacou, destemperado, parte da imprensa que denunciara essa prática.

Severino não se tornou notório apenas com isso. O líder da súcia parlamentar assumiu o posto de presidente da Casa do Povo mostrando uma visão de mundo que remonta à Inquisição. No início de 2005, o Congresso se movimentava devido à decisão de permitir ou não a pesquisa e o uso de células-tronco na Medicina. Severino, sem pestanejar, tentou argumentar contra esse progresso que ajudará muitos pacientes com doenças outrora incuráveis. Mas “argumentar” não é atividade que compete a uma mente arraigada com a própria barriga: titubeando, o caudilho pernambucano trouxe o aspecto religioso, ao afirmar que essa pesquisa contraria preceitos bíblicos.

Outro momento de pejo à democracia nacional fora personificado no tratamento que “Xique-Xique” dedicou aos movimentos homossexuais. Severino recebeu com desdém representantes das reivindicações GLS e, com um orgulho mórbido nos olhos, prometeu descer da tribuna de presidente da Câmara para votar contra os projetos que beneficiariam os 10% de brasileiros que assumiram ser homossexuais, segundo o IBGE (o número deve ser bem maior, mas o medo ainda cala milhões). Ele esquece (ou finge esquecer) que parte dos proventos disponíveis para a manutenção de sua boa vida advém de gays e lésbicas.

Toda a vez que Severino sobe à tribuna e pega o microfone para si, o medo e a vergonha se espalham entre muitos brasileiros. É patente a falta de tato com as palavras e com a população. A Câmara dos Deputados assiste à própria decadência por culpa de seus próprios membros. A ascensão do político de Pernambuco, esquecido no semi-árido sertão, foi movida pelo despeito da chamada oposição contra o governo Lula e o suposto descaso com o Poder Legislativo. A oposição – encabeçada por PFL, PSDB, parte do PMDB, etc. – se julga responsável no horário nobre da TV, mas confecciona artimanhas espúrias para enfraquecer o combalido governo petista. As siglas mencionadas e outras não explícitas neste texto jamais pensam no povo. Os olhos de rapina dessa corja enxergam tão somente as eleições de 2006.

No final de agosto, o nobre Severino ainda chamou os holofotes da mídia para si ao repudiar a existência do Mensalão. As provas apresentadas nas frágeis CPIs não foram suficientes para convencer o cético Severino. Além disso, ele se mostrou enternecido com a possível cassação de alguns parlamentares e, imbuído de piedade pelos colegas, vomitou para o Brasil que defende penas mais brandas para os suspeitos de participar do maior esquema de corrupção da nossa História.

Acompanhando o néscio presidente da Câmara, a oposição – sem responsabilidade alguma com o dinheiro do contribuinte – fez mais uma birra para o presidente Lula: derrubou o veto presidencial ao aumento dos funcionários da Câmara e do Senado, além do Poder Judiciário. O Jornal Nacional mostrou que esses servidores ostentam a mais alta média salarial entre os poderes do país: mais de R$ 9 mil! Ora, o que um espécime desta estirpe tem de “superior” a maioria da população economicamente ativa do Brasil?

O poeta e compositor Renato Russo está mais atual do que nunca. Renato escreveu, em uma de suas inúmeras canções, que o Brasil é “um Estado que não é Nação”. O ex-líder da banda Legião Urbana se torna mais presente do que nunca.