GilmarJunior

Textos de minha vida.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Carta do povo de Faluja, no Iraque, para Kofi Annan, secretário da ONU

À Sua Excelência Kofi Annan
Secretário-geral das Nações Unidas Nova York

Faluja, 14 de Outubro de 2004

Excelência:

É mais que evidente que as forças estadunidenses estão a cometer diariamente crimes de genocídio no Iraque. Neste momento, enquanto lhe escrevemos, as forças estadunidenses estão a perpetrar esses crimes na cidade de Faluja. Os aviões de guerra dos EUA estão a lançar as mais potentes bombas contra a população civil da cidade, assassinando e ferindo centenas de pessoas inocentes. Ao mesmo tempo, os seus tanques atacam a cidade com artilharia pesada. Não foram desenvolvidas acções por parte da Resistência de Faluja nas últimas semanas porque as negociações entre os representantes da cidade e o governo [interino de Ilyad Allawi] avançavam. Nesse clima, os novos bombardeamentos por parte dos EUA verificaram-se enquanto o povo de Faluja se dispunha a preparar-se para o jejum do Ramadão. Agora muitos deles estão presos entre as ruínas das suas casas destruídas e ninguém os pode ajudar enquanto os combates continuam.

Na noite de 13 de Outubro um só bombardeamento estadunidense destruiu 50 casas com os seus residentes dentro. Será isto um crime de genocídio ou uma lição sobre a democracia estadunidense? É óbvio que os estadunidenses estão a executar actos de terror contra o povo de Faluja por uma só razão: a sua recusa em aceitar a ocupação.

Sua Excelência e o mundo inteiro sabem muito bem que os estadunidenses e seus aliados devastaram o nosso país sob o pretexto da ameaça de armas de destruição maciça. Agora, após toda a destruição e os assassinatos de milhares de civis, admitiram que as armas não foram encontradas. Mas nada disseram sobre os crimes que cometeram. Vão os EUA pagar alguma compensação como se obrigou o Iraque a fazer após a Guerra do Golfo de 1991?

Al-Zarqawi: um pretexto inventado pelos EUA.

Sabemos que vivemos num mundo de critérios duplos. Em Faluja [os estadunidenses} criaram um novo e vago objectivo: "al-Zarqawi". Al-Zarqawi não é senão um novo pretexto para justificar os seus crimes, matando e bombardeando civis todos os dias. Passou-se quase um ano desde que criaram este novo pretexto e cada vez que destruem casas, mesquitas, restaurantes e matam crianças e mulheres dizem "lançámos uma operação com êxito contra al-Zarqawi". Nunca dirão que o mataram porque tal pessoa não existe. E isso significa que o assassínio de civis e o genocídio quotidiano prosseguirá.

O povo de Faluja assegura a V. Exa. que essa pessoa, se existir, não está em Faluja nem provavelmente em nenhum outro lugar do Iraque. O povo de Faluja pediu muitas vezes que qualquer pessoa que veja al-Zarqawi lhe dê a morte. Agora todo o mundo percebeu que este homem não senão um herói hipotético criado pelos estadunidenses. Ao mesmo tempo, o representante de Faluja, nosso dirigente tribal, denunciou em repetidas ocasiões as acções de sequestro e o assassínio de civis, nós não temos nenhuma relação com qualquer grupo que se comporte de maneira tão desumana.

Excelência: Apelamos a si e a todos os dirigentes do mundo para que exerçam a pressão mais forte possível junto à administração Bush para que ponha fim aos seus crimes em Faluja e para que retire o seu exército da cidade. Faluja gozava de tranquilidade e paz quando saíram. Não fomos testemunhos de nenhuma desordem na cidade. A administração civil funcionava bem apesar dos seus limitados recursos. Simplesmente não demos as boas vindas às forças de ocupação. Esse é o nosso direito de acordo com a carta das Nações Unidas, com o Direito Internacional e com as normas da humanidade. Se os estadunidenses acreditam ao contrário, deveriam abandonar antes as Nações Unidas e todas as suas agências antes de actuar de modo contrário à Carta que subscreveram.

É muito urgente que V. Exa., juntamente com os dirigentes mundiais, intervenha de maneira imediata para prevenir um novo massacre. Tentámos contactar os vossos representantes no Iraque a fim de pedir-lhes que sejam mais activos a este respeito mas, como sabe V. Exa., estão a viver na "Zona Verde" [de máxima segurança em Bagdad], onde não podemos aceder. Queremos que as Nações Unidas tomem partido sobre a situação de Faluja bem como da de muitas partes do nosso país.

Com os nossos melhores cumprimentos,
Kassim Abdullsattar al-Jumaily
Presidente do Centro de Estudos dos Direitos Humanos e da Democracia

Em nome do povo de Faluja e do:
Conselho da Shura de Al-Faluya
Associação de Sindicatos Sindicato dos Professores
Conselho dos Dirigentes tribais
Casa da Fatwa e da Educação Religiosa

1 Comments:

  • At segunda-feira, 14 fevereiro, 2005, Blogger larissa bueno ambrosini said…

    sempre tem algo interessante por aqui!
    é isso q me deixa pensando q esses americanos além de estúpidos são uma nação comandada pela gente mais podre e fétida desse mundo. e, vendo o filme do kubrick na sexta não consegui deixar de pensar na guerra do iraque...
    beijo!

     

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